Em contraste com a falta de pulso tantas vezes demonstradas
por esse governo, as declarações firmes de Ciro Gomes fazem a militância de
esquerda muitas vezes vibrar. Sem o peso da responsabilidade de conduzir o
processo, ele está do lado de fora dizendo o que é preciso ser dito por alguém,
mesmo que muitas vezes não possa ser colocado em prática o que ele diz. É o
comentarista descolado palpitando sobre um time de treinador retranqueiro.
Ciro tem toda a legitimidade para, mais uma vez, tentar se
eleger presidente da República. Bem sucedido como prefeito, governador e duas
vezes como ministro, conhecedor a fundo do Brasil, sabe dos desafios e é um
estudioso das soluções. É uma pessoa preparada para tarefa.
Seus descaminhos partidários demonstram mais a falência do
nosso sistema político do que um desvio de conduta pessoal. Seu temperamento
impulsivo, tantas vezes apresentado como argumento para veto, foi de grande
utilidade em momentos difíceis como a crise do mensalão e a recente tentativa
de golpe. Foi inciso e leal, até nas críticas.
O erro que pode lhe causar a terceira derrota é acreditar
que sua trajetória, seu preparo e suas demais qualidades pessoais se sobrepõem
à construção de um projeto coletivo. Lula não é Lula apenas pela sua voz rouca
e sua história de retirante vencedor. Lula se fez líder de um partido
estruturado, da maior central sindical do país, de estudantes, de intelectuais
da esquerda, dos setores progressistas da Igreja.
Para ser um candidato a presidente competitivo por fora do
status quo é preciso ter um alicerce político e social que Ciro não tem e não
parece preocupado em ter. Se ele acreditar, como disse em entrevista recente,
que a base social do PT está perdida, vai fazer um belo papel na campanha, mas
vai perder de novo. E talvez percamos todos.
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